Os filmes da nossa première do cinema brasileiro 2020 também mereciam um espaço no blog, né?
![Capa do post com indicações de filmes do cinema brasileiro 2020.](https://libre.ag/wp-content/uploads/2020/06/semana-do-cinema-brasileiro-2020-dicas-de-filmes-capa-1.png)
Pra você não perder nenhuma indicação em meio às publicações das redes sociais, trouxemos os filmes que estrelaram nossa Semana do Cinema Brasileiro 2020 para o blog. Por aqui, você também vai encontrar algumas informações da ficha técnica, trailers e onde essas produções nacionais estão disponíveis. Confira!
Dica #1 – Gica: Zuzu Angel
Direção por Sérgio Rezende ‧ 2006 ‧ Drama ‧ 1h48 ‧ +14 anos
Texto por Gisele Vivan
“‘Desacato é impedir o direito sagrado de uma mãe de enterrar seu filho’.
Essa é uma das frases que mais me marcou e que mostra a dor de Zuzu Angel, estilista brasileira conhecida mundialmente, durante um julgamento em que ela cobra por informações do paradeiro do seu filho, Stuart Angel, torturado e assassinado pela ditadura militar no início dos anos 1970.
A minha dica de filme é o drama biográfico de Zuzu Angel, lançado em 2006 com direção de Sergio Rezende. No elenco vemos a atuação – incrível – de Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira, os protagonistas da trama.
Aluguei o DVD em 2007, e lembro de ter assistido ao filme com minha mãe e meus irmãos. Choramos muito e juntos. Minha mãe sentiu ainda mais, porque uma mãe reconhece a dor da outra.
Pra quem não conhece ou não lembra dos horrores da ditadura, penso que o filme consegue passar um pouco da dor que esse período causou, com as cenas bem fortes das torturas feitas pelos militares.
Mas já adianto: não é um filme com final feliz, mas é necessário para se falar sobre o direito à informação e, ainda mais, sobre o amor de uma mãe pelo seu filho.”
Zuzu Angel está disponível no Looke e Apple iTunes*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Análise: O cenário do cinema no Brasil até 2019
Dica #2 – Dani: Aquarius
Direção por Kleber Mendonça Filho ‧ 2016 ‧ Drama ‧ 2h26 ‧ +16 anos
Texto por Daniela Rolloff
“Quando eu assisti ao trailer de Aquarius, uma das falas de Clara, protagonista interpretada por Sônia Braga, chamou muito a minha atenção para querer ver o filme inteiro: ‘Quando você gosta é vintage, quando não gosta é velho’. Eu fiquei refletindo bastante sobre isso.
A história é sobre uma jornalista de 65 anos, aposentada, viúva e última moradora de Aquarius, um edifício na orla de uma praia de Recife. Ela se tornou a última moradora depois de os outros apartamentos terem sido comprados por uma construtora, com a intenção de demolir o prédio e construir um mais moderno. No dia a dia de Clara, também é possível ver o assédio que ela sofre por negar as ofertas de compra do seu apartamento.
Chama a atenção a grande coleção de discos de vinil de Clara, ela até conta sobre uma reportagem antiga que encontrou dentro de um deles e como isso é fascinante, ter uma história guardada por tanto tempo. A sua teimosia em continuar morando em Aquarius mostra o apego dela pela história da casa onde seus filhos cresceram.
É um filme longo, com quase duas horas e meia, mas é gostoso de assistir e faz refletir sobre as coisas que temos e sobre nossa vida. Como Clara diz, coisas antigas são vintage até você não gostar mais delas, mas, enquanto gostarmos, nossas histórias não ficarão velhas.”
Aquarius está disponível na Netflix, Telecine, Google Play Movies, Looke e Apple iTunes*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Confira o trailer:
Dica #3 – Gab: Carta para além dos muros
Direção por André Canto ‧ 2019 ‧ Documentário ‧ 1h25 ‧ +12 anos
Texto por Gabriel Antunes
“Estamos no mês em que celebramos o Orgulho LGBTQ+, e o documentário ‘Carta para além dos muros’ é mais que necessário para acabar com os estigmas sobre o HIV que afrontam a comunidade todos os dias.
O documentário apresenta a cronologia da epidemia de HIV no Brasil até os dias atuais a partir de relatos de mais de 30 pessoas e narrativa inspirada no trabalho de Caio Fernando de Abreu, que deu nome ao filme.
Acredito que um documentário como esse é muito importante por trazer informações que nos ajudam a nos livrar de preconceitos e estigmas e gerar conversar pertinentes sobre um assunto que por muitos é considerado um tabu.”
Carta para além dos muros está disponível na Netflix*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Confira o trailer:
Dica #4 – Ju: Laerte-se
Direção por Eliane Brum ‧ 2017 ‧ Documentário ‧ 1h40 ‧ +14 anos
Texto por Julliane Brita
“Quando assisti “Laerte-se”, me lembrei da Julliane ainda não jornalista, assistindo a um documentário a céu aberto, com projeção numa tela feita de um pedaço de tecido, no pátio da universidade que eu ainda não frequentava. Aquele momento foi de revelação: “É o que quero ser, é onde eu devo estar”. O estado de graça, aliás, veio quase um ano depois, quando entrei no curso de jornalismo e senti que pertencia àquela ideia de retratar vidas pela linguagem, qualquer que fosse o formato.
O documentário de 2017, feito pela diretora Lygia Barbosa da Silva e pela espetacular jornalista Eliane Brum, por quem tenho grande admiração, resgatou em mim essa poesia. É um documentário-poema, prova de que é possível retratar a realidade sem colocá-la em caixa(o) e mumificá-la por meio de sujeitos escondidos nos recursos textuais fajutos da imparcialidade. E ainda é possível colocar verbo no título – requisito obrigatório do texto noticioso – sem que essa ação seja calcada na pretensa objetividade da notícia: “Laerte-se” é sinônimo de “repense”, de “reveja”, de “transforme-se”. É o imperativo a que a vida nos submete: se não se transformar, você está morto, ainda que respire.
Laerte é uma figura que se escancara. Reconhece os erros de um humor que fez escárnio com estupro ou das violências verbais cometidas contra as ex-mulheres. Reconhece a contradição de si e o abandono de personagens que não refletiam mais seu pensamento. Deixou para trás o humor, quase que decisivamente, apesar de ter voltado a sorrir (mesmo depois da morte trágica do filho jovem, num acidente de carro). E expõe essas crises, assume os erros (não sem sofrimentos diversos), transformando o próprio corpo em performance artística, obra de arte que respira, dando aval a muitos que não se permitem ser.
O documentário é uma dose de realidade poética e, por isso mesmo, de um tanto de tristeza que se evoca inclusive do riso. Afinal, não seria o riso uma forma de esquecer o que é triste?”
Laerte-se está disponível na Netflix*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Confira o trailer:
Dica #5 – Jeff: Manhã Cinzenta
Direção por Olney São Paulo ‧ 1969 ‧ Ficção ‧ 22m ‧ +12 anos
Texto por Jeferson Richetti
“Melhor do que indicar apenas um filme no dia do cinema brasileiro é indicar todo um movimento, ou melhor, dois: udigrúdi e o Cinema Novo, movimentos vanguardistas criados entre as décadas de 1960 e 1970. Opostos por essência, mas com diversos aspectos de similaridade.
O primeiro, também conhecido por Cinema Marginal, é grotesco, crítico, paródico e ácido. Retratava a violência e o cotidiano do povo marginalizado. É o cinema sujo, desfocado, agressivo. O segundo defendia a estética da fome, a preocupação com o desenvolvimento de uma linguagem cinematográfica realmente brasileira. Retratava, acima de tudo, os costumes locais.
Ambos são cinema brasileiro. Ambos são importantes para a história. E ambos são ainda mais importantes agora. Seguem alguns destaques de ambos os movimentos.
Cinema Marginal:
Olney São Paulo – Manhã Cinzenta (1969) – https://www.youtube.com/watch?v=3p-ozsRH0xY
Rogério Sganzerla – O Bandido da Luz Vermelha (1968) – https://www.looke.com.br/filmes/o-bandido-da-luz-vermelha
Júlio Bressane – Matou a família e foi ao cinema (1969) – https://www.youtube.com/watch?v=uogSn2kvDAI
Ozualdo Candeias e José Mojica Marins – Trilogia do Terror (1968) – https://www.youtube.com/watch?v=2r7ovBMKuUE&list=PLIPzY18-6TZXrXTSKHoTFvkghGP5lxgMn&index=5&t=0s
Cinema Novo:
Glauber Rocha:
Deus e o diabo na terra do sol (1964) – https://www.youtube.com/watch?v=RyTnX_yl1bw
Terra em Transe (1967) – https://www.youtube.com/watch?v=zYQecb9C0g4
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) – https://www.youtube.com/watch?v=SSEnlffMB5s
Nelson Pereira dos Santos – Vidas Secas (1963) – https://www.youtube.com/watch?v=m5fsDcFOdwQ
Paulo César Saraceni – O desafio (1965) – https://www.youtube.com/watch?v=-BxAy-R_v_k
Joaquim Pedro de Andrade – Macunaíma (1969) – https://www.youtube.com/watch?v=7kQ98hY3aDo
Cacá Diegues – Os Herdeiros (1970) – https://www.youtube.com/watch?v=EmPzEgHWFtI”
Manhã Cinzenta está disponível no YouTube.
Dica #6 – Herms: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Direção por Daniel Ribeiro ‧ 2014 ‧ Romance/Drama ‧ 1h37 ‧ +12 anos
Texto por Hermínio Junior
“No curta, é contato uma história universal (descobrindo o primeiro amor), a homossexualidade e a deficiência física. Já no longa, o debate se amplia para o amor em geral e para as perspectivas de independência do adolescente em crise. O filme não se trata de uma continuidade ao curta, mas uma narrativa diferente para a mesma história. Ele acaba retratando a realidade dos adolescentes, suas descobertas, seus anseios, suas relações interpessoais, de um maneira gentil.
O Curta foi lançado em 2011, e pra falar a verdade, marcou bastante minha adolescência, principalmente pelo fato de abordarem dois temas que pensando na “sociedade” as pessoas nunca imaginariam a vida de um homossexual com deficiência física ou vice-versa.”
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho está disponível na Netflix, Google Play Movies, Apple iTunes*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Confira o trailer:
Dica #7 – Laura: Gabriel e a Montanha
Direção por Fellipe Gamarano Barbosa ‧ 2017 ‧ Drama ‧ 2h12 ‧ +14 anos
Texto por Laura Bombazar
“Longe de ser um spoiler, é importante saber que Gabriel Buchmann desapareceu em 17 de julho de 2009. Estima-se que tenha morrido de hipotermia após 3 dias, enquanto tentava sair do Monte Mulanje, no Malauí, África. O corpo foi encontrado 19 dias depois, em 5 de agosto de 2009, envolto no que parecia ser um ninho de folhas, feito para tentar se aquecer.
Em 2017, Fellipe Gamarano Barbosa, diretor e amigo de Gabriel, fez o filme “Gabriel e a montanha”, para contar os últimos 70 dias dessa história. A produção, misto de ficção com documentário, foi gravada na África, com uma equipe de no máximo 18 pessoas por set (os atores nativos são as pessoas com quem de fato Gabriel teve contato). O filme fez sucesso no exterior e recebeu cinco prêmios, 2 em Cannes, 2 em Lima e 1 em Bucareste.
Apesar de o longa retratar a desigualdade social, Gabriel (João Pedro Zappa) não era pobre. Estudou nas melhores escolas e universidades. Graduou-se em Economia, era mestre e, em 2009, começaria o doutorado em políticas públicas para países pobres na Universidade da Califórnia (UCLA), nos EUA. Foi o que motivou a viagem de um ano, passando por 26 países da Ásia e da África.
Para ele, fazer o doutorado em uma rotina de luxo nos EUA sem presenciar a realidade desses países pobres não fazia sentido.
Nem sempre passando por locais famosos, ele viajou gastando o mínimo possível e gerando renda para a população local. Gabriel pegava carona, se hospedava na casa de nativos e conversava com as pessoas para entender como aquela sociedade funcionava. Registrava tudo em sua câmera, em seu caderno e em e-mails enviados à família.
A história de Gabriel inspira algumas reflexões: o modo carpe diem dele de viver, a relação amorosa com a namorada Cris (Caroline Abras) ou ainda a busca pelo escape de uma vida futura que prometia grandes cobranças. Mas o ponto que me fez refletir – muito – foi sobre nossa forma de discutir temas que permeiam a realidade. Como eu, de minha posição privilegiada, posso apoiar as minorias? Como eu ajo frente às desigualdades? Como posso ampliar a voz de quem tanto grita e não é ouvido? O que e quanto eu sei acerca de um tema para falar dele com propriedade e analisá-lo?”
Gabriel e a Montanha está disponível no Telecine, Google Play Movies, Apple iTunes e Looke*.
*Consultado no site JustWatch em 26/06/2020.
Confira o trailer: